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Autor: VALENTE SOARES; ROSA MARIA
Editorial: UNICEPE
Publicado en: 2017
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“Permitam-me uma apresentação pouco ortodoxa desta história das Tagarelas, tagarelando eu sobre leituras que me aconteceram saltando páginas, retrocedendo, recomeçando, entre o país das ditas Tagarelas e o do Riso Verde. São muitos os encantos e não menos os enigmas, não falta a realidade, menos ainda a poesia, e porque muita a poesia, o leitor há-de ser a seu modo um poeta. O caso é que também não há-de ser um mudo, esse handicap da Risadinha (pp. 10 e 13) e, se o é, pode bem um dentuças qualquer – que os há por aí com consultório e tudo – descortinar-lhe a chave e desentaramelar-lhe a fechadura da porta. E porque também já não resisto a levar-vos mesmo ao país das Tagarelas, como a esse outro do Riso Verde, farei eu próprio de cicerone, já no carreiro das formigas (pp.11, 35).

*

A história é simples, e breve. Risadinha, do país das Tagarelas, não consegue falar. Perante a desolação das Tagarelas – imagine-se – que não conseguem desembaraçar tal mudez, Risadinha, ela também constrangida por semelhante impedimento, resolve retirar-se para o país vizinho dito do Riso Verde, onde encontra um tal Trinca-Serrim, que lhe remove o obstáculo. Logo lhe chegam as saudades da terra natal aonde regressa, para encontrar a tristeza e o silêncio que é precisamente aquilo com que não pode uma verdadeira Tagarela. Desperta então as Tagarelas, restituindo-lhes a tagarelice feliz no país ensombrecido. Passam cem anos (afirma o narrador), Risadinha é uma risonha velhinha contando histórias às netas, quando recebe a visita desse Trinca-Serrim prodigioso.

Neste esboço da narrativa pode vislumbrar-se desde já três sentidos predominantes que atravessam esse incontornável tema da existência, em três das suas vertentes: a do tempo (que concede o momento mas assombra com a finitude das coisas), a da fala (que ao ser falante dá à carne a consciência), a da alegria (que é a chama que vive do esquecimento da morte na combustão da palavra).

Tudo o mais que soubermos ouvir através das malhas subtis do bordado do texto, são, direi eu, poesia. Este texto exibe, nítido, um gosto do poema, tendo no seu avesso o suporte narrativo, mínimo como se viu, por onde opera. É pois mais propriamente um poema narrativo, numa linha, actual, que vem da tradição oral dos romanceiros”